sábado, 16 de novembro de 2013

Estações

Ela costumava ser feliz.
Então, o Verão passou.
Ela endureceu suas feições.
E as folhas de Outono caíram.
Ela já não falava com ninguém.
O Inverno congelara seus sentimentos.
Ela desistiu de ser.
E na Primavera, nasceu uma nova cerejeira.

domingo, 14 de julho de 2013

Desculpa, foi engano!



Casa do Carlos, Campinas – SP ;  Segunda-feira, 10:00 a.m

Josefa: Alô, meu sobrinho querido?
Carlos: ÔÔ Tia Josefa, pontual como sempre hein...
Josefa: Claro, sinto saudade, tenho que ligar toda semana. Eai, já tomou café?
Carlos: Já sim tia. Vou sair daqui a pouquinho. A Marina tá me esperando.
Josefa: Ah, essa é sua namoradinha? Quando que vai ser o casamento?
Carlos: TIA! Conheci ela há duas semanas, não temos nada...
Josefa: Mas queria ter né, sobrinho safado.
Carlos: TIA!
Josefa: HAHAHAHA’ A sobrinho, todo mundo aqui sente sua falta, quando você volta pra Bahia?
Carlos: Já disse tia, depois da faculdade. Faltam dois anos.
Josefa: Tudo bem, então vou deixar você ir se encontrar com a namoradinha. Beijos. Se cuida viu.
Carlos: Até segunda que vem tia.
Josefa: Até Bruninho.

Carlos desligou o telefone e suspirou, o tal Bruno realmente tem sorte de ter uma tia que se preocupa tanto assim.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Máscara


“As máscaras que os criadores da filosofia usavam nos seus teatros, foram hoje substituídas pelo que chamamos de personagem. Uma máscara não física que esconde o próprio ator. E libera, para satisfação do público, alguma incrível figura. Figura essa que nos faz rir... Nos faz chorar... Consegue criar um laço com o público. Enfim, ela nos cativa. Esse texto é baseado no processo de fabricação desse véu. Ou, na mais provável das hipóteses, na loucura que acerca a mente do autor.” 

***

Por um minuto ela parou e analisou novamente a maquiagem. Os olhos pareciam desenhados pelo delineador, as bochechas levemente avermelhadas e a cara um tanto mais pálida do que o comum. Tudo perfeito. Faltava apenas um último acerto. Algo que todos os outros julgariam como um detalhe, mas para ela o “detalhe” não era um detalhe comum. Era um daqueles detalhes que merecia ser revisado, como o zíper das calças.

Sentada de frente para a penteadeira, deixou que seus olhos se confrontassem com o seu reflexo.  Os olhos cor de mel encaravam-se. Ela fez o primeiro movimento, arqueando as sobrancelhas.  Ela repetiu. “Droga”, pensou frustrada. Respirou fundo e colocou a língua para fora. Não deu certo, ela também a imitou. Tentou pular, mas elas aterrissavam juntas. Tentou dançar, mas ela já sabia os passos. Tentou até fazer malabarismo, então lembrou que não tinha esse talento.

Estava quase na hora e ela ainda não tinha atingido seu objetivo. Estava tensa e suada. Levantou-se, ligou o ventilador e com um pequeno lenço enxugou o suor da testa. Jogou o lenço para o lado. Ela pegou. Um sorriso apareceu em seu rosto, ela tentou imitar mas não foi tão rápida. Correu para frente do espelho, estava no caminho certo.

Dessa vez ela aterrissou primeiro. Rodopiou antes que ela pudesse se mover. Tentou fazer malabares. Não conseguiu, mas ela sim. Maravilhada com o que ela fazia, ela esperou. Quando os malabares chegaram ao fim elas se encararam novamente. Ela sorriu. Recebeu um outro sorriso, diferente do seu. Ela começava se tornar alguém. Ela pensou “Julia”, e ela pareceu aprovar.

Emocionada ela se rendeu. Deixou que ela tomasse o controle. Esticou a mão até a superfície gélida do espelho. Encontrou no lugar uma outra mão que, carinhosamente, agarrou a sua. Fazendo um pequeno esforço ela puxou. Saíram os braços, depois a cabeça, o tronco e por fim os pés. Os olhos se cruzaram, e ela entrou no espelho.

Viu quando ela saiu da sala, só lhe restava esperar. Havia conseguido. Deixado todas as suas manias de lado, seus hábitos, que ela sempre pensou que fossem impossível de perder, e cedido lugar a um outro ser. Uma pessoa que fazia parte dela, que ela criou com base no que já tinha guardado dentro de si, mas que, para ser perfeito, precisava ter sua própria consciência.

Passaram se algumas horas e ela ouviu os aplausos. Minutos depois a porta se abriu. E elas se encararam novamente.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Conjunção


Às vezes as pessoas confundem as palavras. Outras vezes elas são gagas e enrolam a língua nos dentes. Mas, o caso mais comum é gerado pela ausência da educação, também conhecido como ignorância, do latim “sin govirnus inviztimintus”.

Eu tinha duas alternativas. Escapar de tudo ligando os fones de ouvido e sendo enviado a outro universo. Ou ouvir mais uma dessas conversar de trem, respeitando as leis da ACA (Associação dos Curiosos Anônimos). Como membro especial, não pude negar a minha natureza.

Acho que a comparação entre trens e latas de sardinhas é clichê, mas porém não consigo encontrar nenhum outro tipo de lata que substitua as de sardinha a altura. A proximidade dos corpos dentro do vagão com certeza contribuiu para que eu pudesse ouvir.

O relato a seguir foi modificado para preservar o seu sistema auditivo.

Garoto 1: “Nossa cara estou com a maior fome.”

Garoto 2: “Você não sabe. Ontem comi quase três pratos. E ainda fui fazer natação.”

Garoto 1: “Mas é perigoso nadar depois de comer!”

Sou obrigado a confessar que, até esta parte da conversa, o que mais me surpreendeu foi perceber que ainda há pessoas que se preocupam com o próximo.

Garoto 2: “É... Ainda bem que foram apenas exercícios leves.”

Garoto 1:  “É você não pode mergulhar.  para que eu decepasse meus ouvidos. faca. Felizmente fui salvo pouco antes de querer cortar minhas orelhas. dentro do vag

Garoto 2: “Eu estou ligado. Fiquei com muito medo de dar conjins... Contest... Convul... De sofrer conjunção”

Foi como se todas as minas terrestres escondidas na Angola estivessem estourado a menos de quinze centímetros do meu ouvido. Eu quase podia sentir o sangue escorrendo. Felizmente, fui salvo pouco antes de arrancar minhas orelhas.

Garoto 1: “Nossa cara, você é muito burro, não tem nada haver com conjunção.”

Garoto 2: “Ah, sei lá. É aquele negócio que dá na barriga.”

Garoto 1: “GASTRITE!”

Dessa vez, o salvador foi quem cedeu a faca para que eu decepasse meus ouvidos.

Garoto 2: “Deve ser. Acho que embaralha os intestinos.”

Garoto 1: “E isso é para sempre? Fica torto?ngua﷽﷽﷽﷽﷽﷽que os carrascos da lú da mpam me avisar sobre algo. Aparentemente he querer cortar minhas orelhas. dentro do vag

Garoto 2:  “Lógico que não. Você morre.”

O trem para e eu desembarco na mesma estação em que os carrascos da língua. Vejo o trem partir. E o barulho da máquina me conforta.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Inconveniente Companhia.



Uma mão se aproxima. Você tenta fugir, mas não sabe de onde ela vem. Tenta despista-la, fugir, se esconder, passar desapercebido na multidão, mas tudo isso é em vão. Olha para trás e ela ainda está lá, esperando.

No começo os dedos se fecham devagar, quase que acariciando, e lentamente a pressão vai aumentando. É inútil gritar, eles não ouviriam. Ninguém ouviria.

Passado um tempo você decide conviver com isso. Os outros não enxergam, não precisam e não querem vê-la. Você sente inveja deles, queria poder não ver também. Claro, é impossível.

O tempo te esgota. As lágrimas que você derrubou enquanto estava sozinho transbordam. Você não sabe ao certo o motivo. Ela apenas te encontrou. Saudade, decepção, amor, amizade, solidão, ódio... Você desiste de descobrir qual realmente é.

Sentado você imagina se alguém percebeu. Não importa, os braços já se moveram. Enquanto cai você olha para o céu uma última vez. O homem conquistara a lua tempos atrás, mas na verdade ela te conquista todas as vezes em que aparece. Dessa vez não é diferente. Você ri, talvez tenha descoberto, mas agora é tarde. A dor acabou.

No dia seguinte, os carros circulam normalmente pelo viaduto.

domingo, 30 de setembro de 2012

Acho que estou apenas vivo.


Realidades distorcidas?
E um mundo sem mentiras?
Os sonhos foram tão bons alguma vez?
O olhar continha pureza em outros tempos?

A realidade já não é mais tão real assim.
As verdades já não são livres da mentira.
Os sonhos já não são livres de pesadelos.
A inocência já não é tão eterna quanto antes.

A realidade caminhará de ponta cabeça.
Palavras não serão mais do que gotas de chuva.
Os sonhos serão inatingíveis.
A malicia chegará cada vez mais cedo.

Transformarei...

A realidade em sonhos.
A verdade em inocência.
Os sonhos em realidade.
A inocência numa verdade.