quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Voto.



A voz robótica da repórter anunciava no noticiário:

“Os professores da rede pública entram em greve pela quinta vez esse mês... As filas nos hospitais dobram, neste exato momento, quatro quarteirões e a falta de leitos obriga os pacientes a sentarem nas cadeiras dos médicos e atendentes.... Faltando apenas uma semana para o inicio dos jogos olímpicos a vila olímpica, os hotéis e os ginásios ainda estão por acabar. Os turistas vão se revezando entre acampar em suas próprias barracas e dormir com os feirantes... Foi nos informado agora pouco que acaba de ser descoberto mais um caso de corrupção, ao que tudo indica o Deputado Federal Fausto Corrêa da Silva, popularmente conhecido como Faustão, estava desviando verbas públicas para sua conta bancaria na Suíça. Em entrevista na sua mansão recém comprada, ao lado da Neverland nos EUA, Faustão alegou que todo o dinheiro que desviou iria ser doado ao Criança Esperança. Mesmo com o crescente aumento de seu patrimônio, a policia alegou que não havia provas suficientes para prendê-lo e ele continuará no cargo, podendo se reeleger nas eleições do mês seguinte...”

- JÁ CHEGA! – Gritou um dos homens que acompanhava  o jornal pela TV. – Temos que fazer alguma coisa, nosso país não vai para frente desse jeito.

As poucas almas que estavam na padaria não se manifestaram. Ainda era de madrugada, os poucos trabalhadores que ali estavam tomavam o seu pingando com pão quase que de olhos fechados, e os funcionários ainda trocavam turnos de atendimento para que pudessem dormir. Com os nervos exaltados o homem, subiu na mesa e bateu o pé com força.

- Vamos... Vocês vão ficar parados enquanto o governo rouba o nosso dinheiro? – Em sua mente ele discursava para toda a torcida do flamengo.

Dessa vez parece que sua voz chamou a atenção de alguém, um homem que acabara de entrar na padaria foi até ele. Tirou seu chapéu e o cumprimentou, viviam no mesmo bairro e se conheciam a muito tempo, havia certa amizade.

- Alfredo, você de novo reclamando do governo. – falava o homem, enquanto se sentava numa das cadeiras. – Posso saber afinal em quem você votou nas últimas eleições, hein?



- Ora, Luiz, isso não importa...

- Importa sim! Vamos, diga. Em quem você votou?

- Foi no... no... - Alguns instantes de silêncio. – José Benedito, o homem do povo.

- E quantos candidatos além desse você pesquisou?


- Bem... Alguns. – Alfredo agora respondia timidamente.

- Esta vendo! Todos reclamam, mas na hora de votar são poucos aqueles que procuram saber sobre o candidato e analisam todas as propostas. – A voz de Luiz começava a ganhar força. - Não sei se sabe, mas o tal José em que votou, foi demitido ontem por excessivas faltas ao serviço. O tal “homem do povo” que você elegeu estava era vivendo as custas do povo, isso sim. Se você não quer nem se dar ao trabalho de assistir ao horário político, folheie alguns jornais ou acesse sites de partido na internet, e se não achar nenhum candidato bom, escolha o menos pior ouviu? O MENOS PIOR!

A sensação era que aquele delicioso pão de café da manhã havia murchado. Enquanto Luiz respirava profundamente tentando recuperar o ar que gastou em seu discurso ninguém ousou dizer sequer uma palavra. Sem se despedir ele se virou pronto para sair quando o amigo tocou seu ombro.

- Mas, calma ai Luiz, você votou no mesmo cara que eu lembra? Fomos juntos no dia da eleição.

Desolado Luiz caiu em cima de Alfredo, e entre  os soluços de decepção ele expressava:

- Eu sei Alfredo... Eu sei... Eu só queria o menos pior... O menos pior...

2 comentários:

  1. muito boa a idéia, mas pq usar o nome do Faustão?Vc deve sempre usar nomes ficticios

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    1. Funciona apenas como uma entidade, era um drama sobre quem colocamos no poder.

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