sexta-feira, 9 de março de 2012

Para Sempre...



Via apenas o rosto dela, e para mim isso era suficiente. Estávamos sentados sob uma árvore, o sol ainda não tinha nascido, estava escuro e ela havia adormecido. Meu tronco servia de apoio, e meus braços a envolviam. Não havia outra palavra para descrever o momento senão “perfeito”. Pousei a mão sobre sua cabeça, alisando seus cabelos, senti sua respiração mudar, ela ainda dormia, mas sabia que era a minha mão que a acariciava.

Enquanto esperava o momento de acordá-la quando minha mente foi inundada pelo cheiro do campo ao nosso redor. E sem que eu pudesse reagir a mim mesmo, comecei a pensar no real motivo de estarmos ali.

Eu a conhecera na primavera, ela viera conhecer nossa pequena cidade, na ocasião eu era o garçom que a servira no restaurante. Naquele dia não trabalhei direito, confundi os pratos dos clientes, anotei pedidos errados e derrubei inúmeros pratos. Descobri o que é amar nesse dia. De longe eu contemplava seus cabelos castanhos que escorriam por seu rosto delicado e singelo, seus olhos grandes e verdes, conseguiam me hipnotizar e só despertava quando alguém esbarrava em mim. Não era alta. Seu corpo se encaixava perfeitamente na roupa que usava, e a cada sorriso que ela dava a mesa com suas amigas era um salto que meu coração dava diante de tamanha beleza.

Pergunto-me se foi o destino, o acaso, a sorte... De qualquer forma, só tenho a agradecer por isso. Ela esquecera sua bolsa na mesa, eu a guardei esperando, e torcendo, para que ela voltasse para pegar. O restaurante havia fechado, eu havia resolvido ficar lá por mais um tempo, na esperança de que ela voltasse. As cadeiras já estavam empilhadas, eu tinha colocado um disco qualquer para tocar. Já estava quase desistindo de rever a moça quando ouvi batidas na porta, era ela.

Corri desajeitado para abrir a porta, ela sorriu e perguntou da bolsa, respondi que estava guardada e a convidei a entrar. Ela olhou para o chão e vi que as maças do seu rosto coraram. Meio sem jeito ela entrou no restaurante vazio, que agora parecia mais um salão. Ela girou sobre os calcanhares e me olhou nos olhos, novamente minha consciência se esvaiu perante seu olhar. Voltei à realidade quando ela me abraçou. De repente nossos corpos estavam juntos, pela primeira vez, não havíamos trocados muitas palavras e já estávamos dançando ao som da música que antes eu julgara qualquer, e agora defino como a melhor que já ouvi.

Naquele dia compreendi que o amor não é feito apenas de palavras, enquanto dançávamos ela dizia em meu ouvido que havia sentido o mesmo.
E de repente, senti um baque, não sei se realmente houve, apenas senti, e eu estava de volta à realidade. Os primeiros raios de sol já caiam sobre nós, beijei sua testa e ela acordou de imediato. O seu bom dia foi um beijo nos meus lábios, ela se ajeitou ao meu lado.

- Sentiu minha falta? – ela perguntou.

- Você não sabe o quanto. – respondi com um sorriso.

Ficamos em silêncio por mais alguns instantes. Não havia muito a ser dito. Voltei para o motivo de termos vindo aqui. Eu me lembrara de como a conheci, e também, me lembrei como eu era antes de conhecê-la, e nessa lembrança, vi novamente a solidão, exatamente como ela havia pedido para que eu fizesse.
Segundo ela só assim eu sentiria a solidão e a saudade que ela iria sentir, mas que assim, eu a levaria comigo, assim ela ficaria bem até nos encontrarmos novamente. Eu compreendi que certas coisas são eternas, que mesmo agora, perto do fim, todos os incontáveis anos em que estivemos juntos não se perderiam.

- Eu te amo. – foram as ultimas palavras que disse a ela.

Fechei meus olhos, ela apertou minha mão e se deitou novamente sobre meu peito. Meu coração lentamente começou a diminuir o ritmo, minha sensibilidade começou a diminuir e o ar, o cheiro e os sons do campo eu já não percebia mais, somente ela estava ali para mim. E de repente, tudo sumiu e me vi em escuridão total. Meu coração já não batia mais, eu já não estava mais lá, e ela provavelmente já tinha dado conta disso.
Ela... Mesmo sem as batidas do meu coração, mesmo em máxima escuridão ainda me lembrava dela, das vezes em que nos beijamos, outras em que dançamos e por fim das vezes que nos amamos da forma mais intensa. Uma luz em meio a escuridão se abriu, caminhei em direção dela, pensando, e torcendo para que ela pudesse ouvir, que eu a esperaria do outro lado.

2 comentários:

  1. Por que em tds os seus textos de amor o homem sempre morre?

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    1. Nem todos. Meu objetivo foi mostrar o "amor total", citando Vinicius de Moraes, o amor que dura mesmo após a morte.

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