Pedro acabara de sair de seu trabalho, o relógio da Av.
Paulista marcava 20h. Pedro caminhava lentamente, usava um terno preto e sapatos
sociais, a usual camisa branca estava por dentro da calça e sua gravata
mostrava o homem de negócios que ele era.
Após alguns minutos caminhando parou numa das lanchonetes da
avenida, sentou-se à mesa do fundo, sozinho. Não precisou pedir nada, a
garçonete já o conhecia, não demorou muito e ela trouxe o seu cappuccino duplo.
Ele ignorou o sorriso da moça, fitava o cappuccino, sem tocá-lo.
Seu olhar não estava ali, o vapor que subia do café quente
lhe inundava a mente e trazia lembranças. Seu trabalho, depois a faculdade, a época
de escola, a infância, e por fim uma imagem, dele bem pequeno, sentado a uma
mesa com um homem mais velho, e por fim, escuridão. Estava de volta ao café.
Tomava apenas um gole de seu cappuccino, pagava e ia embora.
Pedro fazia isso todos os dias, e depois voltava para seu
apartamento. Morava sozinho, uma casa arrumada para alguém solteiro. No dia
seguinte ele seguiu fielmente sua rotina, e no outro, e no outro... A sensação
de que aquele homem podia ser o seu pai não o abandonava, quando criança sua
mãe lhe dissera que seu pai havia sumido logo após que ele nasceu, porém aquela
imagem o fazia ter certeza que seu pai aparecera, uma única vez.
Era o ultimo dia antes de suas férias, Pedro resolvera ficar
até mais tarde no trabalho, o relógio já marcava 22h quando ele
entrou na lanchonete.
- Pensei que não viria hoje. – foi o que disse a garçonete.
- Eu também. – murmurou de volta.
Ele se sentou no fundo como de costume, refletiu como de
costume e bebeu apenas um gole. Mal havia se levantado quando entra na loja, um
cara encapuzado e anuncia um assalto. Algumas pessoas gritam, outras tentam
fugir, o assaltante saca uma arma e atira para o teto. Estavam presos.
Pedro agarrou o cappuccino, seu amuleto, seu símbolo, sua única
lembrança. A lembrança naquele momento de tensão pareceu fluir em sua mente,
ele lembrou-se do homem lhe pagando o café, dos risos que deu aquele dia, do
modo como o homem afagava sua cabeça e o que ainda restava de duvida se foi,
aquele era seu pai. A lembrança aflorava cada vez mais e ele se lembrou, seu
pai naquele dia dissera a ele que se encontrariam no futuro, que ele tinha uma
doença chamada câncer, na época Pedro não sabia o que era, e teria que fazer
uma viagem muito longa.
Ouviu-se um estampido alto, um tiro. Pedro foi trazido à
realidade. Algo o impedia de se mover. Via pessoas se aproximando dele, e no
fundo, na entrada da loja, o homem com quem sonhara todos esses anos.
Nossa que tragico...mas muito bom o texto
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